Quem assistiu ao novo filme Divertida Mente 2 talvez tenha saído do cinema com uma sensação estranha, uma mistura de identificação, desconforto e até saudade de si. Isso porque a Riley, agora adolescente, não está apenas sentindo novas emoções. Ela está tentando entender o que tudo isso diz sobre ela.
E aí está o ponto principal: sentir ansiedade, vergonha, tédio ou inveja faz parte da vida. Mas a forma como interpretamos essas emoções pode definir o quanto elas nos machucam.
Esse é o foco da Teoria dos Esquemas Emocionais, desenvolvida pelo psicólogo americano Robert Leahy. Ela propõe que todos nós temos uma espécie de “teoria pessoal” sobre o que significa sentir. Essa teoria é construída ao longo da vida (pela cultura, pela família, pelas experiências) e determina como reagimos ao que sentimos.
Riley sentiu ansiedade, mas o problema foi o que ela acreditou sobre isso
No filme, Riley começa a viver emoções novas e intensas. A ansiedade, por exemplo, aparece forte quando ela é convocada para um teste de hóquei. Mas mais do que ansiosa, Riley parece confusa, envergonhada e insegura. E isso tem menos a ver com a emoção em si, e mais com as ideias que ela começa a formar sobre ter ansiedade.
Ela pensa que se está ansiosa, então algo está errado. Que se sentir medo, vai falhar. Que se demonstrar nervosismo, será rejeitada.
Segundo Leahy, essas crenças formam o que chamamos de esquemas emocionais. E o problema com eles é que muitas vezes são distorcidos, rígidos e silenciosos. A gente não percebe que está acreditando nessas ideias, só sente que está tudo “errado” dentro da gente.
Emoções não são o problema… o problema é como você aprendeu a julgá-las
Quantas vezes você já pensou algo como:
- “Se estou sentindo isso, é porque sou fraco(a)”
- “Não posso deixar os outros perceberem o que estou sentindo”
- “Se eu não controlar minhas emoções, tudo vai dar errado”
Essas crenças podem parecer verdades absolutas, mas são interpretações. E mais importante: são aprendidas. Leahy explica que pessoas que veem emoções como ameaçadoras ou vergonhosas tendem a desenvolver estratégias de enfrentamento que só pioram a situação, como ruminar, evitar, se isolar ou se criticar.
Riley mostra isso de forma simbólica no filme. Ao tentar “calar” suas emoções ou esconder o que está sentindo, ela perde o equilíbrio interno. E não é assim com a gente também?
E se você começasse a questionar o que acredita sobre o que sente?
Um dos caminhos terapêuticos possíveis, e que essa teoria propõe, é o seguinte: ao invés de tentar controlar ou eliminar o que você sente, que tal investigar o que você pensa sobre essas emoções?
Em vez de se perguntar “como paro de sentir isso?”, talvez o mais útil seja perguntar:
- “O que eu aprendi sobre sentir isso?”
- “Será que é mesmo perigoso estar ansioso(a)?”
- “Por que me cobro tanto para parecer sempre bem?”
Essas perguntas não resolvem tudo de uma hora para outra. Mas abrem espaço para um tipo de mudança mais profunda: uma nova relação com suas próprias emoções. Uma relação menos exigente, menos julgadora e mais humana.
Emoções difíceis não são falhas, são parte da vida
O filme mostra que crescer é, muitas vezes, confuso. E que sentir demais pode parecer um problema. Mas o que Divertida Mente 2 também nos ensina é que as emoções precisam de espaço para existir e que tudo começa pela forma como escolhemos olhar para elas.
Se você vive lidando com ansiedade, talvez o que mais doa não seja a emoção em si, mas o peso das exigências internas. O medo de parecer vulnerável. A cobrança de ter que estar sempre bem.
Você não precisa controlar o que sente. Precisa compreender o que acredita sobre o que sente.
E isso pode ser trabalhado. O processo terapêutico é um espaço seguro para reconstruir essas crenças, aprender a validar emoções e desenvolver formas mais funcionais de se relacionar com sua experiência interna.
Referências:
Leahy, R. L. (2018). Introduction: Emotional Schemas and Emotional Schema Therapy. International Journal of Cognitive Therapy, 12(1), 1–4. https://doi.org/10.1007/s41811-018-0038-5
Influenciadora? Só se for de autocuidado, autoconhecimento e umas verdades que a terapia não esconde.
Sou psicóloga e crio conteúdo para quem prefere profundidade à performance. Aqui, saúde mental não é tendência: é prioridade.
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Por Andrea Cruz | Atualizado em 04/07/2024